Notícia

image

50 anos da cedeao: progressos, desafios e o futuro da integração regional

30 May, 2025

A CEDEAO celebra, este ano, o seu 50.º aniversário. Para assinalar esta data simbólica, o Dr. Omar Alieu TOURAY, Presidente da Comissão da CEDEAO, concedeu uma entrevista exclusiva na sede da organização, em Abuja. Nesta conversa, partilhou a sua visão sobre os marcos alcançados pelo bloco regional da África Ocidental, os desafios persistentes e as aspirações para o futuro.

Há cinquenta anos, uma visão ambiciosa começou a tomar forma — a de uma África Ocidental unida, integrada e próspera. Os líderes fundadores de 15 países lançaram as bases de uma organização regional criada para responder coletivamente aos desafios económicos, políticos e sociais da região. Assim nasceu a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

———————-

Uma Integração Real, Mas Incompleta

Olhando para trás com orgulho, mas consciente do caminho ainda por percorrer, o Dr. TOURAY afirma: “É uma honra liderar a Comissão num momento tão simbólico.” Destaca a importância de reconhecer o contributo dos seus antecessores e dos parceiros que, ao longo das décadas, ajudaram a construir esta Comunidade.

Questionado sobre os principais avanços da CEDEAO, aponta de imediato para a livre circulação de pessoas: “Hoje, os cidadãos podem viajar apenas com o seu passaporte ou cartão de identidade nacional. Trata-se de uma conquista significativa.”

Desde a sua criação, a CEDEAO tem promovido a conectividade regional com base na convicção de que a unidade africana deve assentar em Comunidades Económicas Regionais eficazes. “Estabelecemos uma zona de comércio livre com uma tarifa externa comum. Embora o comércio intra-regional represente apenas cerca de 12%, estamos a tomar medidas concretas para o dinamizar”, explica. Entre os projectos de destaque, menciona os corredores Lagos–Abidjan e Abidjan–Praia, que visam melhorar as ligações de transporte e o fluxo comercial.

Sua Excelência o General Yakubu Gowon, um dos pais fundadores da CEDEAO, expressa orgulho pelos progressos alcançados, nomeadamente na liberalização do comércio, no direito de residência e trabalho dos cidadãos nos Estados-membros e nas missões de manutenção da paz lideradas pela CEDEAO na Libéria e em Serra Leoa. “A CEDEAO é uma Comunidade construída para o bem dos nossos povos, com base numa história, cultura e tradições comuns”, afirma.

——————-

Energia, Industrialização e Governação: Prioridades Estratégicas

Apesar dos progressos, os desafios persistem. “O consumo de energia continua extremamente baixo — apenas 150 kWh per capita, muito abaixo da média africana de 500”, observa o especialista energético Sr. Outoudeh. A energia, enquanto pilar da industrialização, continua a ser uma das necessidades mais urgentes da região. A Rede de Energia da África Ocidental (WAPP), concebida para facilitar o comércio regional de eletricidade, ainda não opera em plena capacidade.

 

A governação é outra área crítica. “A democracia não pode ser reduzida apenas a eleições”, defende Outoudeh. “É necessário estabelecer um verdadeiro contrato social entre os governos e os cidadãos.”

————-

Uma Comunidade Sob Pressão

Nos últimos anos, a CEDEAO enfrentou instabilidades políticas, incluindo golpes de Estado no Mali, na Guiné e no Burkina Faso, bem como anúncios de retirada de alguns Estados-membros. Cresceu também a contestação em torno dos mecanismos de sanção da organização, considerados por alguns como ineficazes ou desproporcionados.

 

Reconhecida durante décadas como líder regional em matéria de paz e segurança, a CEDEAO vê agora a sua reputação posta à prova. O plano regional de combate ao terrorismo está em revisão, com novo enfoque no financiamento sustentável das operações de paz. “Sem paz, não há desenvolvimento”, adverte o Dr. TOURAY.

—————-

Rumo a uma CEDEAO Centrada nas Pessoas?

Apesar dos ventos contrários, a Comissão da CEDEAO mantém-se firme na sua visão de longo prazo. A Visão 2050 da CEDEAO assenta em quatro pilares estratégicos: paz e segurança, boa governação, integração regional aprofundada e desenvolvimento humano sustentável.

Para o Dr. TOURAY, concretizar esta visão exigirá instituições fortes, eficazes e um modelo de parceria renovado com os parceiros técnicos e financeiros. Através da Visão 2050, a CEDEAO pretende construir uma África Ocidental mais resiliente, inclusiva e próspera — onde a integração económica e monetária se traduza numa realidade tangível com a adoção da moeda única regional, o ECO.

“Nenhum Estado-membro da CEDEAO está em guerra com outro. Só isso já merece ser celebrado. Os conflitos devem — e podem — ser resolvidos através do diálogo”, afirma o Presidente da Comissão.

 

As suas palavras ressoam com otimismo, mas também com sentido de responsabilidade. Aos 50 anos, a CEDEAO está irrevogavelmente comprometida com a missão de transformar a promessa da integração regional numa realidade vivida pelos povos da África Ocidental.

 

Estados Membros