CEDEAO realiza sessão de alto nível sobre ciberdiplomacia para reforçar a resiliência regional e a cooperação digital

Antes considerada uma preocupação periférica, a ciber diplomacia passou a ocupar o centro dos debates sobre segurança global. Na África Ocidental — onde a infraestrutura digital está em expansão e os riscos transfronteiriços aumentam — os atores regionais deixaram de observar da margem e assumem agora uma posição de liderança, posicionando-se estrategicamente para moldar os protocolos, normas e alianças que definirão a governação do ciberespaço nas próximas décadas.

Neste contexto, a Comissão da CEDEAO, em parceria com a Delegação da União Europeia junto da Nigéria e da CEDEAO e com o Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, organizou uma sessão de alto nível sobre ciber diplomacia dirigida ao Comité dos Representantes Permanentes da CEDEAO (CRP), no dia 20 de maio de 2025, em Abuja, Nigéria. A reunião reuniu embaixadores, altos diplomatas, parceiros internacionais e peritos técnicos para refletir sobre como a África Ocidental pode falar a uma só voz e agir com coerência estratégica no cenário digital global.

Na abertura da sessão, o Comissário da CEDEAO para as Infraestruturas, Energia e Digitalização, S. Exa. Sr. Sédiko Douka, proferiu uma intervenção firme e estratégica, apelando aos Estados-Membros para integrarem a ciber diplomacia nos seus quadros de relações externas e de segurança.

“A ciber diplomacia deixou de ser opcional. É essencial. Permite-nos defender a nossa soberania digital, construir confiança entre os Estados-Membros e moldar as regras que irão reger o ciberespaço — tanto em África como no mundo”, afirmou.

Dando seguimento a esta visão estratégica, o Chefe de Cooperação da Delegação da União Europeia junto da Nigéria e da CEDEAO, Sr. Massimo De Luca, reiterou o apoio da União Europeia a um ecossistema digital seguro e inclusivo na África Ocidental. Nas suas palavras, a cibersegurança está intrinsecamente ligada à proteção democrática, à estabilidade económica e ao desenvolvimento sustentável.

“A nossa cooperação em cibersegurança não se limita à capacidade técnica — trata-se de proteger os cidadãos, as empresas e o espaço democrático. A CEDEAO está a dar o exemplo”, declarou.

Como parceiro bilateral comprometido, a Embaixadora da República Federal da Alemanha junto da Nigéria e da CEDEAO, S. Exa. Annett Günther, sublinhou a importância da coerência regional e elogiou o crescente papel da CEDEAO na definição das normas digitais internacionais.

“O futuro da diplomacia já é digital. Ao reforçar estruturas, consolidar conhecimento e falar a uma só voz, a CEDEAO pode tornar-se uma referência na forma como os blocos regionais promovem comportamentos responsáveis no ciberespaço”, destacou.

Em nome dos Estados-Membros, o Representante Permanente da Nigéria junto da CEDEAO e Presidente do CRP, S. Exa. Embaixador Musa Sani Nuhu, destacou a importância da vontade política e da diplomacia coletiva. Recordou aos delegados que África deve estar presente nos espaços onde se definem as regras globais — não como observadora, mas como autora.

“Devemos estar presentes nos fóruns internacionais que moldam o nosso futuro digital. A CEDEAO tem a voz coletiva, a vontade política e a legitimidade para agir como um só corpo. Usemos essa força”, apelou.

Complementando estas perspetivas de alto nível, a Embaixadora para a Ciber Diplomacia do Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, S. Exa. Maria Adebahr, partilhou reflexões substanciais sobre o envolvimento internacional da Alemanha no domínio cibernético. As suas observações reforçaram o valor da cooperação inter-regional, da competência diplomática e da coerência política para navegar neste ecossistema digital complexo.

“A cibersegurança, a inteligência artificial e as tecnologias emergentes exigem competências diplomáticas, coerência política e unidade regional”, afirmou. “A CEDEAO demonstrou estar pronta para liderar.”

O programa prosseguiu com uma sessão técnica orientada para o reforço de capacidades, conduzida por Sorina Teleanu, da DiploFoundation, que apresentou os quadros multilaterais e os pontos de entrada para negociações. Enquadrou a ciber diplomacia como um domínio operacional, sublinhando a importância do envolvimento da CEDEAO em processos globais em curso, como o Grupo de Trabalho Aberto das Nações Unidas (OEWG) e o Pacto Digital Global.

As contribuições de Moctar Yedaly, Diretor Regional para África do Fórum Global sobre Especialização em Cibersegurança (GFCE), e da Dra. Katherine Getao, antiga Secretária de TIC do Quénia, acrescentaram profundidade à discussão, chamando a atenção para a urgência de reformas legais nacionais, da colaboração interinstitucional e da preparação para enfrentar riscos digitais em todo o continente.

O intercâmbio de perspetivas técnicas continuou com as intervenções da Dra. Nnenna Ifeanyi-Ajufo, do Sr. Abdul-Hakeem Ajijola e do Sr. Vladimir Radunović, que ofereceram orientações jurídicas e estratégicas sobre a aplicação de quadros regionais já existentes. Em conjunto, reforçaram a importância de operacionalizar plenamente a Diretiva da CEDEAO sobre Cibersegurança e Proteção das Infraestruturas de Informação Crítica, adotada em dezembro de 2023, e de investir em medidas de criação de confiança (CBMs) em toda a região.

À medida que a sessão se aproximava do fim, emergiu uma mensagem clara e unificada: a ciber diplomacia não está reservada às economias avançadas — é uma necessidade estratégica para as regiões que pretendem proteger o seu desenvolvimento, a sua soberania e a sua paz. Ao assumir este compromisso, a CEDEAO afirma o seu papel como um ator confiável e visionário na definição da governação digital global.

Esta sessão de alto nível insere-se no mandato mais amplo da Comissão da CEDEAO de integrar a governação digital, a segurança regional e a diplomacia multilateral nos seus quadros de integração. Em estreita coordenação com a União Europeia e a República Federal da Alemanha, a CEDEAO continua a promover um futuro digital seguro, aberto e inclusivo para todos os seus Estados-Membros.